Caderno Corográfico releva aspectos geográfico de Santos nos anos 1930/40/50

Corografia. Mas, afinal, o que é isso? Trata-se de uma palavra de origem grega (“khorus” – lugar e “graphein”- descrição), que representa o ramo da geografia responsável por apresentar, ou descrever, as características básicas de uma localidade (seja um país, um estado ou uma região menor, como um município).

O primeiro estudo corográfico realizado no Brasil foi publicado em 1817 pelo geógrafo e historiador português Manuel Aires de Casal. Intitulado “Corografia Brasílica” ou “Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brasil”, foi composta e dedicada ao então rei D. João VI que, em razão da invasão napoleônica a Portugal em 1808, transferira toda a corte e seus principais cientistas e estudiosos para o Brasil, incluindo a imprensa régia que, aliás, foi a responsável pela tiragem desta obra.

Ao longo das décadas, outros estudos corográficos foram elaborados, principalmente no Segundo Reinado (1840-1889), contando estes com largo apoio e simpatia do então Imperador D. Pedro II.

Com o advento da República, os estudos desta natureza continuaram, principalmente como ferramenta de apoio para utilização nas disciplinas escolares básicas de geografia. Foi em meio a estes conceitos didáticos e pedagógicos que o renomado historiador santista, Francisco Martins dos Santos, após concluir seu maior trabalho literário, os dois volumes do livro “A História de Santos” (1937), debruçou-se nesta pequena obra intitulada “Caderno Corográfico Santista”, com a proposta de difundir os aspectos geográficos do município de Santos nas escolas.

Francisco Martins dos Santos registrou o trabalho na Biblioteca Nacional no dia 6 de julho de 1940, ganhando o registro nº 6.319. Nesta época, a área de Santos era imensa, pois englobava os atuais municípios de Cubatão, Guarujá e Bertioga, emancipados em 1947, 1949 e 1991, respectivamente.

O Caderno Corográfico Santista, edição de 1950, de Francisco Martins dos Santos. Acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos.

O caderno geográfico de “Chico” Martins foi utilizado nas escolas por mais de uma década, tendo sido aprovado pela Diretoria Geral de Ensino do Estado de São Paulo. Mas, em razão das transformações do município santista (que perdeu as áreas de Cubatão e Guarujá), ele sofreu algumas alterações.

O exemplar que o Memória Santista obteve é de 1950, rodado na Tipografia Nascimento (Rua Amador Bueno, 187/189). Nele, se levou em conta a existência dos dois municípios emancipados, porém com algumas observações. Cubatão tem sua área incorporada a Santos do ponto de vista das informações sobre rios, morros, ancoradouros e produção. Já o Guarujá, que era uma Prefeitura Sanitária, está separado, mas acaba sendo avaliado no assunto estradas de ferro. Veja a partir daqui o conteúdo deste material:

CADERNO COROGRÁFICO SANTISTA

MAPAS DO MUNICÍPIO E CIDADE DE SANTOS – CURSO PRELIMINAR

O mapa com os limites ainda não leva em conta as fronteiras de Cubatão, ainda incorporada a Santos, apesar de no texto fazer uma referência a existência do novo município, emancipado em 1947. O Guarujá também não aparece como município autônomo. A referência é apenas a Ilha de Santo Amaro.

Limites do município

Ao Norte: os municípios de Santo André, Mogi das Cruzes e Salesópolis

Ao Sul: A ilha de Santo Amaro e o Oceano Atlântico

A Leste: O município de São Sebastião

A Oeste: O município de Cubatão

A Sudoeste: O município de São Vicente.

Aspecto – O município de Santos é bastante acidentado e montanhoso, coberto de muitas matas e regado por inúmeros rios, riachos, ribeirões, furados e gamboas. As várzeas constituem menos da metade do atual território municipal, e as que não estão ocupadas com a cidade, bairros rurais, núcleos fabris e bananais, conservam-se em estado primitivo, invadidas de matas, mangues e alagadiços.

Clima – O clima do município é em geral quente e úmido; muito sujeito a variações atmosféricas e às chuvas, sendo conhecidos os seus noroestes, os ventos quentes tão comuns em Santos. Das estações do ano, as únicas bem caracterizadas são o Verão e o Inverno.

Superfície – A atual superfície do município é de 740 quilômetros quadrados

População – Calcula-se a da cidade em 297.000, e a de todo o município em 301.662 habitantes.

Densidade demográfica – 416 habitantes por quilômetro quadrado.

 

Interessante notar uma intensa atividade agrícola voltada ao cultivo da banana, principalmente na região da Serra do Mar.

Produção

O município de Santos não é dos mais ricos em matéria agrícola e mineral, por falta de melhor e mais ampla exploração.

No REINO VEGETAL está presentemente a sua maior riqueza, que são as bananas. Os bananais cobrem uma quarta parte do seu território, e, além do consumo interno (Santos, São Vicente e São Paulo) que é grande, estima-se a saída para o estrangeiro, em 13 milhões de cachos anualmente, produzindo alguns milhões de cruzeiros para a nossa economia.

Vem em seguida a cultura da cana-de-açúcar, empregada no fabrico da aguardente, e depois, a cultura da mandioca, da batata doce e da terra, das laranjas e tangerinas, do milho, do feijão e das hortaliças.

As florestas do município são vastas, ocupando mais de metade da área municipal e fornecendo palmitos, raízes, fibras, orquídeas, lenha, madeiras comuns e de lei, entre as quais citam-se: a peroba, as canelas, o cedro, o vinhático, a copaíba, a marinduba, a massaranduba, a caixeta, a tamanqueira, o guaperuvu, o embirussu, o guaratã e muitas outras.

No REINO ANIMAL, na classe dos animais domésticos, existe no município a criação de galinhas comuns e de raça, de patos e marrecos, de pássaros, de porcos e cabras. Nas florestas encontram-se em grande quantidade os porcos do mato (catetos, queixadas e canelas ruivas), os veados (pardos, mateiros e catingueiros), capivaras, antas, pacas, cotias, macacos e monos, onças e grande número de aves, como jacus (caca, pema, guassu e tinga), macucos urus, tucanos, saripocas, surucoás, pavôs, maitacas, inhambús, juruvas e uma imensidade de aves menores.

No REINO MINERAL pouca coisa existe descoberta e explorada, sabendo-se contudo que existem em abundância, nos morros do município, os quartzos diversos, as micas ou malacachetas, o esmeril, as turmalinas, os mármores etc.

Fontes de águas minerais não se conhecem no município: apenas as águas do Itororó eram apontadas nos antigos relatórios estatísticos nacionais e estrangeiros entre as boas águas férreas do mundo.

A pesca está bastante desenvolvida, existindo organizações que exploram o comércio do peixe e grande número de pescadores isolados, que fornecem ao Mercado Municipal e à cidade de S. Paulo. As tainhas, os robalos, as pescadas e pescadinhas, os badejos, as garoupas, as cavalas, os sargos, os paratis, as manjubas, as savelhas, as sardinhas, os cações, os meros, os caçonetes e as jamantas, ainda são os peixes mais comuns à procura, sem falar nos camarões. Os mangues e costões continuam a fornecer milhões de caranguejos, ostras e mariscos, muito apreciados pelo povo.

Além do Porto de Santos, o mapa revela outros importantes atracadouros do município santista.

O Porto

O porto de Santos é o melhor e o mais movimentado do País. Compreende toda a região de domínio da Companhia Docas de Santos, desde os antigos outeirinhos, no Macuco, até o Valongo, onde fica o Armazém 1. Seu aparelhamento, que é moderníssimo e completo, abrange a Alemoa, onde ficava há tempos o depósito de inflamáveis e corrosivos, e a Ilha Barnabé, onde fica hoje o depósito de inflamáveis da Companhia Docas, transferido da Alemoa.

Pequenos fundeadouros suplementares – Há diversos pequenos fundeadouros no território municipal, para lanchões, lanchas, barcos de velas, chatas, chatões, botes, canoas, catraias etc., como a chamada Bacia do Mercado, onde os lavradores do município e do litoral do Estado vêm vender seus produtos; o da chamada Bacia do Macuco, de utilização vária; o do Caminho do Forte Augusto, na Ponta da Praia, muito antigo, freqüentado por dezenas de embarcações de pesca e ponto dos pescadores da Colônia de Santos; o do São Jorge, próximo ao Matadouro; o antigo Porto do Cubatão ou das Armadias; o de Piassaguèra; o do Quilombo; o de Santa Cruz ou do Jurubatuba; o do Diana; o do Tridade; o do Itapanhaú, da Cia. Docas, que serve à sua usina de Força e Luz da Itatinga, dando atracação a rebocadores, e finalmente o fundeadouro da Bertioga, também muito antigo e com bastante fundo.

A Ilha de Santo Amara já não fazia mais parte do município e, assim, não foi listada.

Ilhas do Município

As mais conhecidas são: a Urubuqueçaba, junto à praia do José Menino; a de São Vicente (antiga Guaió) onde assentam as duas cidades de S. Vicente e Santos; a Barnabé, a dos Bagres, a de Tupurucáia, a Caramocoára ou Casqueirinho, a do Teixeira, a Piassaguéra, o ilhote Casqueiro, a ilha do Casqueiro, a de Sant’Ana, a do Negro Morto, a do Furado, a de Guanique e a chamada Monte Pascoal.

As praias levavam em conta a costa de Santos e Bertioga.

Praias

As mais afamadas praias de banho são as do Gonzaga e José Menino, para onde afluem, nas temporadas e nos domingos e feriados, verdadeiras multidões. Existem ainda, ao lado dessas, as do Boqueirão e Ponta da Praia. Essas quatro denominações porém, determinam hoje, dividindo-as nessas quatro zonas, a antiga praia do Embaré que era toda ela, da Ponta da Praia ao José Menino, até encontrar-se com a de Itararé.

Além dessas, situadas na zona da cidade, existem na zona suburbana as lindas e pitorescas praias da Bertioga, Enseada, São Lourenço, Taguaré, Guaratuba e Boracéia, havendo na Bertioga dois pequenos porém bons hotéis, para veranistas, turistas etc…

O primeiro mapa mostrava os morros da área continental, incluindo os morros de Cubatão.

As serras

Atravessa o município a cordilheira chamada Serra do Mar e também Serra de Paranapiacaba, a qual se divide em diversas denominações locais que são: Serra do Cubatão, Serra do Poço, Serra do Meio, Serra do Mogi, Serra do Morrão, Serra da Garganta, Serra do Quilombo, Serra de Teperovira, Serra de Jurubatuba, Serra de Juqueriquerê, Serra de Itaguaré, Serra de Guaratuba.

Picos

Os principais são: o de Piassaguera, o Itaguassu, o do Guaratuba, o do Espigão Comprido e o da Água Branca, o Cabeça de Negro e o do Jaguareguava, sendo que o Itaguassu, o Guaratuba, o Espigão Comprido e o da Água Branca têm mais de mil metros de altura.

O segundo mapa mostrava os morros da Ilha de São Vicente, além dos canais.

Morros

São muitos os morros do município, e os principais são os seguintes: o do Marzagão, o Manoel Silva, o Piassaguera, o Areais, o das Neves, o do Guarapá, o Cabrão, o do Gabriel, o da Boa Vista, o do Caeté, o do Caiubura, o da Senhorinha (antigo Buriquioca), o do Bananal, o da Volta, o do Tatu, o dos Monos, o Perequê-Mirim, o da Fornalha, os Três Morrotes, o de Itaguá, o da Furna Grande e o do Cedro.

Os morros que ficam junto à cidade figuram a seguir, em mapa à parte.

Morros da Cidade

São os seguintes: Monte Serrate, Morro do Fontana, de São Bento, do Belmiro, do Pacheco, da Penha, do Saboó, do Saboó Guassu, do Chico de Paula, da Boa Vista ou das Palmeiras, do Jabaquara, da Nova Cintra, do Matadouro ou Santa Maria, do Marapé, do Catupé, de Embaré também chamado de Santa Terezinha, e os do José Menino. O Morro de Itararé já fica no município de São Vicente.

Canais

Os canais da cidade são nove. Foram feitos para o fim de enxugar o terreno e sanear a cidade, em geral aproveitando antigos leitos de rios, e têm hoje os números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.

Bairros da cidade

Divide-se a cidade de Santos em vinte e um pequenos bairros ou regiões, de denominação antiga ou recente e são os seguintes: José Menino, Gonzaga, Boqueirão, Embaré, Ponta da Praia, Pau Grande, Marapé, Campo Grande, Vila Belmiro, Vila Macuco, Vila Matias, Jabaquara, Vila Nova e Mercado formando um só bairro, Paquetá, Centro (cidade), Penha e Valongo formando também um só bairro, Saboó, Chico de Paula, Alemoa e Matadouro.

Os rios também levaram em conta a área de Cubatão. Guarujá, por sua vez, ficou de fora.

Rios

Os principais rios de Santos são: o Casqueiro, que liga Santos a S. Vicente; o Bertioga, que liga a cidade ao arrabalde do mesmo nome; o Jurubatuba, o Quilombo, o Piassaguéra, o Mogi, o Cubatão, o Perequê, o de Sant’Ana, o São Jorge, o Sandi ou Sandim, o Diana, o Trindade, o Cabussú, o Itapanhaú, o Itaguaré, o Guaratuba e vários outros menores, como: o ribeirão da Anta, o da Pedra Branca, o dos Morrotes, o Rio Vermelho, o do Espigão comprido, o das Fornalhas, o Rio Branco, o do Perequê, o Perequê-Mirim, o dos Monos, o dos Alhos, o ribeiro da Cachoeira Grande, o Vermelho de Cima, o Rio Bananal, o Itatinga onde fica a usina de força e luz da Companhia Docas, o dos Tachinhos, o da Praia, o Guaxinduva, o Carambiú, o das Furnas, o dos Pelais ou da Fazenda, o Jaguareguava, o Acaraú, o dos Barreiros, o de São João, o Caruara, o córrego da Ponta Grossa, o Caiubura, o Caiuara, o Iriri, o Caetê, o Quatinga, o do Cuca, o Boa Vista, o do Manoel Mina, o do Marcolino ou dos Pilões, o Passareúva e o Parateús.

Saltos e Cachoeiras

Os dignos de menção orçam por nove ou dez e são os seguintes: o Salto de Guaratuba, a cachoeira do Itatinga, a do Jaguareguava, a do Cabussú, a de Jurubatuba, a do Quilombo, a do Engenho, a do Perequê, a da Água Fria (ou da Fábrica de Papel) e as do Itutinga ou Tutinga, chamadas dos Pilões, formadas pelas do rio Passareúva e do Marcolino, que fornecem água potável para Santos.

Estas últimas cachoeiras, pertencentes à Cia. City of Santos, embora ocasionalmente se achem em terras do município de Santo André, são consideradas como parte integrante do município de Santos.

Já no quesito estradas de ferro e de rodagem, o trabalho manteve a estrutura da Prefeitura Sanitária de Guarujá.

Estradas de Ferro

A cidade e o município de Santos são servidos por duas estradas públicas, a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí e a Estrada de Ferro Sorocabana; a primeira, até São Paulo e Jundiaí, e a segunda, até Santo Antonio de Juquiá e Mayrink.

Partindo de Cubatão, existe também uma pequena estrada particular da Cia. City of Santos, que vai até os reservatórios dos Pilões, à Usina da Light e ao sítio Queirózes.

Estrada semelhante existe ao lado oposto do município, partindo de um pequeno cais junto ao rio Itapanhaú, até a Usina de Luz e Força da Cia. Docas de Santos, no rio Itatinga, propriedade da mesma companhia.

A Cia. Docas possui ainda, ao longo do seu cais, pelo lado de dentro e pelo lado de fora dele, uma linha de ferro, totalizando mais de 14 quilômetros de extensão, da Alemoa aos seus últimos armazéns, em ligação com as linhas da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, e mais uma linha que atravessa a cidade de Leste para Oeste, até Jabaquara.

Estradas de Rodagem

A grande estrada de rodagem de Santos é a Via Anchieta, com 62 quilômetros, que liga a cidade à Capital do Estado. Possui na parte da serra 2 pistas: uma de subida e outra de descida. Além desta, ainda oferece condições de trânsito a Estrada do Vergueiro ou Estrada do Mar, que vai para S. Paulo, partindo do Saboó e passando pelo Cubatão; do Saboó ao Cubatão chama-se Avenida Bandeirantes. Entre Santos e S. Vicente, existe também, saindo do Matadouro, uma boa estrada estadual de pequena extensão (prolongamento da Via Anchieta).

Na Ponta da Praia há uma pequena estrada municipal, para o “ferry-boat”, sob o nome de Avenida Rei Alberto I.

Outras pequenas estradas de rodagem ligam o cume do morro de Embaré ou Santa Terezinha, assim como a Nova Cintra, e o bairro jardim dos morros do Fontana e São Bento à cidade, constituindo passeios pitorescos.

Na Ilha de Santo Amaro existe a estrada de rodagem que liga Santos ao Guarujá, mas está fora do município, em terras da Prefeitura Sanitária de Guarujá.

Os cadernos eram vendidos nas livrarias Casa Vermelha e na própria Tipografia Nascimento.