Com medo de bombardeio nazista, Santos ficava às escuras

Dia 1º de setembro de 1939. A Alemanha nazista, de Adolf Hitler, invadia impiedosamente a Polônia, dando início a um dos conflitos mais sangrentos da história da humanidade, a Segunda Grande Guerra Mundial. Ao longo dos meses, os alemães invadiriam outras nações européias e espalhariam o terror em terra, pelos céus e nos mares, até que alcançaram a costa sul americana em maio de 1942, onde promoveram, a partir de submarinos, uma série de ataques contra navios mercantes, muitos deles de bandeira brasileira (desde fevereiro, os nazistas haviam afundado outras embarcações do país no Oceano Atlântico, nas proximidades dos Estados Unidos e no Caribe). Ao Brasil, do então presidente Getúlio Vargas, até aquele momento neutro diante do conflito global, não coube outra saída senão declarar guerra aos países do eixo (Alemanha, Itália e Japão).

Diante da grave situação e da iminência de ataques direitos, a cidade de Santos entrou em estado de alerta. Afinal, aqui estava abrigado o maior porto sul americano, estratégico para o escoamento de material de apoio aos aliados (maquinário e, principalmente, alimentos). Apesar de situar-se longe da Europa e da remota possibilidade de ataques aéreos, não seria impossível a ocorrência de bombardeio lançado pelos temíveis submarinos nazistas que já infestavam o Atlântico Sul.

Os bondes, como este da fotografia tirada nos anos da guerra, trafegavam à noite com as luzes apagadas, para não dar pista da localização da cidade de Santos para os submarinos alemães.

A escritora santista Edith Gonçalves Dias, que na eclosão da guerra contava com 22 anos de idade, narrou o que se passava em Santos em um de seus livros. “Logo sofremos as conseqüências da guerra, pela falta de produtos que vinham da Europa. O pão foi racionado, pela escassez do trigo importado, impondo racionamento ao consumo. Mas alguém descobriu uma receita de pão sem farinha. À noite, deixava-se um pacote de macarrão de molho em água. Pela manhã escorria-se a água, juntavam-se ao macarrão amolecido ovos, gordura, fermento e sal ou açúcar. Cheguei a comprar uma forma retangular para assar o precioso pão que, quando pronto, assemelhava-se ao pão de forma comum”. 

Em relação ao medo latente de se tornar alvo da insanidade alemã, Edith contou: “Havia o temor da infiltração de nazistas mal intencionados em nossa cidade, deixando os santistas em sobressalto, sendo uma das preocupações de nossos dirigentes que a cidade fosse alvo de um bombardeio, através de um submarino alemão que chegasse ao largo da barra.Foi então adotada uma drástica decisão, a cidade permaneceria às escuras, para que nenhuma luz fosse vista pelos possíveis atiradores. Os bondes passaram a trafegar com as cortinas abaixadas, tornando quase imperceptíveis as fracas lâmpadas que iluminavam o seu interior. As ruas ficaram totalmente às escuras. Os moradores da orla da praia foram intimados a adotar idêntico procedimento em relação às suas próprias residências. Nossa casa possuía vitrais enormes que, logicamente, deixavam a luz interna ser refletida no exterior. Comprei muitos metros de um tecido preto grosso para vedar completamente a luz interior, o que resolveu o problema.”

Felizmente o ataque nunca aconteceu. A Guerra terminou em 1945 e Santos estava alí, inteira e aliviada, como narrou Edith. “As luzes voltaram a brilhar em toda a orla, iluminando nossas casas, nossas vidas e principalmente nossas almas, pondo fim a muitas angústias”.

Jornais da época estampavam em suas primeiras páginas, indignados, os ataques nazistas contra os navios mercantes brasileiros.
Jornais da época estampavam em suas primeiras páginas, indignados, os ataques nazistas contra os navios mercantes brasileiros.
Submarino alemão, temido pelos santistas durante a guerra.
Submarino alemão, temido pelos santistas durante a guerra.

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