O reconhecido advogado de Santos relata para o mundo a experiência que teve ao viajar dentro de um disco voador por quase uma hora. Caso é um dos mais famosos da história do país. Relatos e outros documentos desta incrível história fazem parte do acervo sobre Óvnis do Arquivo Nacional.
São Sebastião, 16 de junho de 1956. O advogado e catedrático da Faculdade Católica de Direito de Santos, professor João de Freitas Guimarães, fora, à serviço da sua profissão, de operador do Direito, para a vetusta cidade sebastiana a fim de checar uns processos no Fórum daquela comarca. Ocorre que ele demorou na dificultosa viagem desde Santos e, quando chegou, os serviços forenses haviam encerrado. Guimarães não encontrou outra alternativa que não fosse procurar um hotel para hospedar-se. Iria, assim, no dia seguinte, resolver suas demandas.
Encontrado o local para o repouso, o advogado, após o jantar, decidiu caminhar pela praia, para fins de digestão. Caminhava sozinho pelas areias quando, perto de 19h10 ou 19h15, como relatou, viu elevar-se um enorme jato d’água no mar, no trecho compreendido entre a Ilhabela e a cidade de São Sebastião. Logo pensou se tratar de uma baleia, mas, para sua surpresa, era algo que jamais poderia supor. Era um aparelho bojudo, que nunca vira antes, nem mesmo em revistas ou livros. Ele emergiu das águas e tomou a direção da praia, justamente onde ele estava.
Ainda assustado, ele não teve coragem de correr, e ficou parado, até que o aparelho repousou à sua frente, lançando um trem de aterrisagem munido de esferas. Logo depois, por uma espécie de abertura, saíram dois homens, que se encaminharam ao seu encontro. Eram altos, claros, louros, olhos claros e serenos. Usavam uma espécie de macacão verde, que se estreitava ao nível do pescoço, dos punhos e dos tornozelos.
A princípio, Freitas Guimarães se assustara com a situação, mas como os estranhos lhe pareceram tão humanos e perfeitos, ele tomou coragem e perguntou-lhes se haviam se envolvido em algum acidente com aquela máquina, ou procuravam por alguém específico.
Não obtendo resposta dos estranhos, ele repetiu a pergunta em francês, inglês, italiano, mas não obtivera resultado algum. Todavia, embora não falassem, parecia que os estranhos o convidavam a entrar em sua máquina. Por um momento pareceu-lhe que aqueles tripulantes se comunicavam com ele por telepatia. Percebendo que o convite era insistente, João de Freitas Guimarães decidiu ir, afinal estava também sentindo uma vontade irresistível de ver por dentro aquela máquina fantástica.
Foi quando um dos homens se encaminhou para a nave, dando-lhe as costas, como lhe pedindo que o seguisse. Guimarães assim o fez, sendo escoltado pelo segundo estrando, que o acompanhava pelas costas.
Dentro do Disco Voador
O indivíduo que ia à frente alcançou rapidamente a parte inferior da máquina e nela subiu facilmente, segurando as escadas com uma só mão, enquanto o visitante teve de fazer uso de ambas para conseguir subir. Na entrada do Disco, aguardando-os, estava um terceiro tripulante. Fechada a porta, o engenho decolou. Naquele momento, mesmo sentindo um ligeiro mal estar, o professor notou que ainda havia água nas vigias.
“Está chovendo?” – perguntou
Sempre telepaticamente, foi lhe dito que não se tratava de chuva, mas da água proveniente da rotação em sentido contrário das peças que compunham a nave. Ainda lhe explicaram que, contornando o aparelho, havia um dispositivo de filtração de raios, o qual tinha a propriedade de fazer o semivácuo em qualquer uma de suas partes. Observou Guimarães que durante toda a viagem eles só permaneceram em um único compartimento, mas notou que havia outros na cosmonave, também iluminados.
Através das vigias, viu o dr. Guimarães que passava por uma zona intensamente escura, onde os astros brilhavam de maneira extraordinária. Sucediam regiões enxameadas de estrelas, que cintilavam com incomparável fulgor. Seguiam-se novas zonas escuras. Atravessaram depois uma camada violeta fulgurante e, nessa ocasião, sentiu que o aparelho sacudia fortemente. Como demonstrasse receio, disseram-lhe que a nave acabara de deixar a atmosfera da Terra.
Durante a viagem, o advogado perguntou várias vezes de onde eles eram originários, mas não obteve resposta. Não se sabe por que razão não desejavam identificar-se. Reparou que havia no compartimento onde se encontrava um painel de forma circular, no qual oscilavam três agulhas, muito sensíveis. Viu que, ao deixarem a atmosfera da Terra, os referidos ponteiros passaram a vibrar intensamente. Segundo foi-lhe explicado por um dos tripulantes, o aparelho era conduzido no sentido da resultante composição das forças magnéticas naquele lugar.
Ao regressarem, notou que seu relógio estava parado, mas calculou de 30 ou 40 minutos o tempo em que estiveram em voo.
Novo encontro
Ainda dentro da astronave, combinaram novo encontro para o dia 12 de agosto do ano seguinte, 1957, no mesmo local e hora. A data foi marcada por meio de 12 constelações que dispuseram sob a forma de zodíaco. Uma roda indicava o ano e a repetição de 12 vezes o número 8 deu-lhe a ideia do mês de agosto.
Ocorre que Guimarães acabou não indo ao encontro, uma vez que o caso acabou sendo muito divulgado e, por conta disso, havia sido organizado, por curiosos, uma caravana para assistir o fato, o que certamente provocaria grande tumulto. Além disso, a Aeronáutica Brasileira enviou ao local alguns aviões de caça a jato.
Em entrevista concedida a pesquisadores da Sociedade Brasileira de Estudos de Disco Voadores (SBEDV), o advogado santista dissera que alguns dias antes da data convencionada para o encontro, o coronel aviador Márcio Cesar Leal Coqueiro o recomendou a não ir ao evento, lhe dizendo: “Terei lá em São Sebastião dois esquadrões de caças a jato para receber o disco voador”.
Ainda nessa entrevista, Guimarães acrescentou que soubera, por pessoas que deram testemunho público na TV Tupi de São Paulo que, na data marcada, de fato o disco viador aparecera, por detrás da Ilhabela, passou por São Sebastião e acabou rumando na direção da praia de Barequeçaba.
Ataques à imagem do santista
Por algum tempo Guimarães só conversou sobre sua aventura com um número restrito de pessoas, durante um jantar na Associação dos Advogados de Santos. Ele evitava a todo custo uma divulgação mais ampla, porque sabia que havia o risco de ser encarado como um maluco ou golpista. Ele sabia que poucas pessoas estavam habilitadas para entender algo daquela magnitude. O advogado acreditava que muita gente reputaria sua fala como algum movimento de interesse de propaganda livresca, ou de lançamento pessoal com fins políticos (como de fato aconteceu). Era tudo o que ele não queria, uma vez que era respeitado na cidade santista por sua intelectualidade e seriedade.
Mas a história acabou, de certa forma vazando, pelas mãos do colega de Direito e deputado estadual, Lincoln Feliciano, que escreveu um artigo inspirado na aventura de Guimarães. Depois disso, parte da imprensa se orientou no sentido de ridicularizar ou comprometer a pessoa de João de Freitas Guimarães, pela “deturpação dos fatos e a atribuição de outros que não referi, tudo isto, parece, que para confundir a opinião pública, que tinha na ocasião o direito de ser perfeitamente esclarecida”, como ele dissera mais tarde.
A revista carioca “Mundo Ilustrado” chegou a dedicar duas páginas para contar a “contraditória” história de Guimarães, reputando-a como o “Golpe do Ano”, com claras intensões de autopromoção, para “a publicidade de algum livro a caminho do prelo”. A reportagem até deduzia de onde viera a inspiração do santista para a construção de sua história: do livro “A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores” (1955), de Ramatis (entidade espiritual que orientaria o escritor Hercílio Maes). Além dessa fonte, a reportagem afirmava que Guimarães demonstrou ser conhecedor de outras obras do meio ufológico, mas que não teria “preparado bem sua lição de cosmografia”, uma vez que cometera alguns equívocos em sua fala à TV Tupi, quando fora entrevistado.
O jornal Diário Carioca foi ainda mais longe nas notas duras contra o santista João de Freitas Guimarães. O periódico teria entrevistado um parente distante do advogado, chamado Chico Wright. Ele disse à reportagem que “o Tio Joca (pai de Guimarães) daria uma surra nele, se estivesse vivo”, afirmando que o santista era “mentiroso e maluco” desde garotinho.
O caso chamou a atenção da Aeronáutica, a ponto de ela convocar o santista para depor. Guimarães foi entrevistado por um militar de alta patente do órgão das Forças Armadas, que possuía um departamento especial para tratar de casos como aquele.
Guimarães tomou conhecimento, meses após o fato, de que nos arquivos da Força Aérea Brasileira havia dados e até fotografias que comprovavam a sua experiência, mas que não eram divulgados.
Arquivo Nacional e case nos estudos de ufologia
A história do santista João de Freitas Guimarães está relatada e arquivada no acervo sobre Óvnis do Arquivo Nacional, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, cuja sede é no Rio de Janeiro. Esse conjunto de dados é o mais acessado do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN), onde é possível consultar fotos, áudios e vários tipos de documentos sobre estes tipos de fenômeno.
Depois de um tempo mantendo as informações dentro de um círculo restrito de amigos, o advogado acabou decidindo participar de muitas entrevistas em TV e rádios, sempre abordando o assunto, que virou um dos maiores casos de contatos extraterrestres já relatados no país (e até hoje é um dos mais comentados sobre o tema).
Boa parte da narrativa aqui publicada foi extraída do Boletim Especial da Sociedade Brasileira de Estudos de Disco Voadores (SBEDV), edição de 1975, escrita pelo seu então presidente da Sociedade Pelotense de Investigação e Pesquisa de Disco Voadores (Pelotas/RS), Luiz do Rosário Real.