Santos tem um Cristo Redentor feito de areia do mar

Centenas de pessoas passam todos os dias por ele. Quem já não transitou de carro pela entrada da cidade e reparou no Cristo Redentor santista, de braços abertos tal qual o original carioca, símbolo do país e uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno? No entanto, quantas pessoas já não desdenharam do nosso Cristo, reputando-o como um monumento de qualidade artística duvidosa? Houve e ainda há quem diga que a estátua é daquelas que podem ser compradas em qualquer comércio de jardinagem, como uma peça de enfeite para sítios e chácaras. Quem diz ou pensa assim não faz a menor ideia do caráter de inovação do Cristo santista, criado pelas mãos do precursor brasileiro da escultura de areia, Pedro Germi. Isso mesmo, o nosso Cristo, o Cristo santista é feito de areia do mar, uma técnica desenvolvida na cidade nos anos 60. A ideia de erguer o Cristo na entrada da cidade foi do próprio artista, um homem do interior paulista, onde diversas cidades adotam o monumento cristão como sinal de boas-vindas.

A estátua, depois de montada e vitrificada, numa fórmula própria, e secreta, desenvolvida por Pedro Germi, foi colocada numa rocha de granito irregular, de 2,45 metros, extraída dos morros santistas pela Secretaria de Obras e Serviços Públicos. A estátua em si tem mais 2,75 metros de altura e 900 quilos de peso.

Para fazer o Cristo Redentor, Pedro Germi trabalhou durante 66 dias, 16 horas por dia, contando com um ajudante na fase inicial e uma equipe de seis na fase de montagem das partes. As emendas entre as partes eram bem mais visíveis quando da inauguração, em 8 de dezembro de 1980. Ao longo dos anos foram escurecendo, enquanto o corpo foi clareando, até que ambos se igualaram.

QUEM FOI PEDRO GERMI?

Pedro Germi nasceu em 12 de Janeiro de 1930 na cidade de Lins, São Paulo, onde trabalhou com esculturas desde os nove anos de idade, utilizando materiais como argila, madeira e pedra-sabão. Em 1959, casou-se e se mudou para São Vicente, onde começou a ver a areia como material de trabalho. As esculturas, na época, eram realizadas na horizontal. Pedro, então, decidiu criar a escultura em areia com bloco no sentido vertical. Como artista autodidata, começou então a partir daí a produzir seus trabalhos para apreciação dos turistas.

Com o tempo ganhou fama no país e fora dele, principalmente na França, país que valoriza bastante a arte de escultura na areia. Entre 1973 e 1974 comandou seus alunos no trabalho para a Rede Tupi de Televisão, na produção das esculturas para a novela “Mulheres de Areia”, que alavancou a arte ainda mais no país. Em 1980, Pedro Germi começa a ter problemas nas mãos, por conta dos produtos químicos que ele misturava às obras para petrificá-las. Ele não utilizava luvas durante a preparação. Pedro parou de dar aulas e passou a dedicar seu tempo à escultura em areia petrificada, fazendo bustos, estátuas, troféus e tudo o que lhe fosse encomendado. A partir de 1985, o artista começou a desenvolver uma “Doença Degenerativa Irreversível do Cérebro” e se esquecia de tudo e todos. No auge da doença, olhava as fotos de suas esculturas e dizia: “Nossa, que bonito, quem fez isso?” Pedro Germi morreu no dia 20 de setembro de 1997, deixando um legado cultural riquíssimo.

Pedro Germi, o primeiro escultor de areia do Brasil e o seu Redentor: monumento inédito no país.
Pedro Germi, o primeiro escultor de areia do Brasil e o seu Redentor: monumento inédito no país.

 

Cristo de Pedro Germi (foto de 2011). Sergio Willians
Cristo de Pedro Germi (foto de 2011). Sergio Willians

Deixe um comentário