As três naus portuguesas, comandadas por André Gonçalves (há uma tese de que o comandante da expedição teria sido Gonçalo Coelho), singravam os mares do Atlântico Sul com lepidez, margeando a costa daquele imenso e desconhecido continente verdejante e povoado por estranhos homens sem pudor ou temência a Deus. Após terem partido de Lisboa, em 10 de maio de 1501, sob ordens do Rei de Portugal, Manuel I, os navegantes sistematicamente batizaram os acidentes geográficos do litoral, com objetivo de produzir um documento cartográfico que servisse de referência a outras viagens e suporte estratégico para a ocupação das atraentes terras oficialmente descobertas havia um ano por Pedro Álvares Cabral.
Além de soldados, marinheiros e oficiais, a frota trazia à bordo um homem que logo mudaria muitos aspectos da história, tornando seu nome diretamente vinculado à vida de centenas de milhares de pessoas até os dias de hoje. Seu nome era Américo Vespúcio, mercador e cosmógrafo florentino, fora incluído nesta viagem por conta do seu conhecimento e habilidade na elaboração de cartas geográficas, assim como pela significativa influência que tinha junto a comerciantes de grande fortuna, custeadores das principais expedições exploratórias naquele tempo.
Após terem percorrido o vasto território litorâneo do que seria mais tarde chamado de Brasil, em 22 de janeiro de 1502, as três naus apontaram na barra hoje conhecida como Baía de Santos. Com o calendário litúrgico nas mãos, Vespúcio foi o responsável por batizar o que reputou ser a foz de um rio, o Rio de São Vicente, em consonância com a data reverenciada ao Santo Mártir de Zaragoza, Espanha.
Desta feita, Vespúcio foi o primeiro homem não nativo a iniciar uma ação direta na região hoje ocupada pela cidade de Santos, assim como foi um dos primeiros olhares ocidentais para o local onde hoje se elevam os prédios da orla, seus morros e a bucólica Ilha Urubuqueçaba. Seu feito ficou marcado para sempre, assim como a perpetuação de seu nome na vida de todos os que nasceram em um dos três continentes descobertos a partir do final do Século XV, as Américas.
Se somos americanos, o somos em referência ao primeiro homem ocidental que vislumbrou e se encantou com Santos, em 1502.