Santos, 25 de janeiro de 1986. Mais de três mil pessoas se aglomeravam no ginásio do Clube de Regatas Santista, na Ponta da Praia, para prestigiar a final do concurso Garota Lazer 1986, promovido pela revista “Lazer”, criada um ano antes para o público jovem santista. A “Lazer” era uma publicação que tratava de assuntos relacionados ao esporte radical, moda e amenidades que a juventude mais apreciava nos anos 1980, editada pelo jornalista Luis Carlos Ferraz, o Cebola, e tocada administrativamente pelos primo-irmãos Damy Castro, Márcio e Marco.
Aquele era o primeiro concurso de beleza promovido pela revista, que contou com o apoio da Secretaria de Turismo de Santos (Sectur) e colaboração de algumas empresas, como Ho Sport, Reação, Ogmma e Art Fil, além da participação da Nabatéia, Mine Preciosos, Caiçara Caiaques, pranchas Megatons e Fluid Energy, Maria Farinha, Pinduca Baterias, Will, Sun’s Door, H. Prol e Iris; Sistema de iluminação, Sunshine Promoções e Publicidade; e participação especial da Coca-Cola.
O concurso
Foram um total de 39 candidatas competindo pelo título. Sob a orientação do coreógrafo Alciney Abreu, de 24 anos, todas elas cativaram a atenção do público que lotava o ginásio do Regatas Santista. Alciney organizou uma entrada impressionante, com todas as candidatas desfilando juntas e vestindo biquínis da Ogmma.
O desfile prosseguiu com cada concorrente caminhando individualmente pela passarela. Ao término do desfile, cada uma delas compartilhou uma breve frase relacionada à revista LAZER. Frases como “LAZER é prazer…” e “LAZER, a revista jovem…” ecoaram pelas arquibancadas, sempre acompanhadas de entusiasmados gritos da plateia, que contava com 3 mil espectadores.
O painel de jurados era composto por uma equipe de personalidades da época. Incluía o então secretário de Esportes de Santos, Paulo Silvares; o piloto de motocross José Pacheco Barroso Neto, conhecido como Cricri; o professor de Educação Física e atleta de halterofilismo, Eli Evangelista; Simone R. Pereira, representando a Coca-Cola de Santos; os empresários Arnaldo Escudero Neto, da Caiçara Caiaques, e Silene Cardoso, da Art Final; os jornalistas José Luiz de Araújo, da Secretaria de Turismo de Santos, e Roberto César, da Guarujá FM; Cristina Guedes, do jornal Cidade de Santos; o presidente do Conselho Deliberativo do Regatas Santista, Estevão Fernandes; e o produtor fotográfico Marquito, da Styllu’s.
Na primeira etapa da votação, os jurados empataram três candidatas na 10.ª nota, obrigando os organizadores do concurso a realizar a semifinal com 12 garotas. Retornaram à passarela, por ordem alfabética: Ana Cristina, nº 2; Cristina, 3; Daisy, 4; Isabelle, 7; Laura, 8; Maria das Graças, 17; Maria Edinelza, 18; Marilena, 19; Raquel, 23; Rosemeire, 24; Soraia Amorim, 28; e Soraia Gameiro, 29.
Veio então a segunda coreografia, executada pelas 12 finalistas. Elas entraram todas juntas, de biquíni, saíram e retornaram, uma a uma, usando bermuda lycra. Após o desfile, cada candidata parava no centro do palco e, perfeitamente, tirava a bermuda, ficando somente de biquíni. Nesse instante, a plateia delirava, gritando e aplaudindo as concorrentes.
“A proposta era algo moderno e sensual” – comentou Alciney, ao fazer um balanço do sucesso de sua coreografia. “E acho que conseguimos agradar ao público, com belas garotas, bem ensaiadas, e que realmente fizeram o espetáculo”.
A decisão Soberana do juri
Ao final, os jurados deram quatro pontos para Soraia Amorim de Mello, 2 para a nº 2, Ana Cristina de S. Aragoni, 2 para a nº 7, Isabelle Silva dos Santos, 1 para a nº 9, Laura Ribeiro Costa, 1 para a nº 18, Maria Edinelza da Silva e 1 para a nº 24, Rosemeire de L. Soares. Soraia Amorim, então, foi consagrada vencedora.
A campeã
Vitoriosa desde 1983, quando ganhou o concurso Garota Carinho, a santista Soraia Amorim de Mello, de 17 anos, era uma jovem de pele morena, cabelos superlisos, 1,68m, 53 quilos, manequim 40. Ela impressionou o júri de 11 componentes e dividiu os gritos da plateia. “Adorei participar e vencer o Concurso,” disse ao final, “serviu para divulgar ainda mais minha imagem de modelo e confirmar minha vitória no concurso Garota das Praias, que venci em outubro do ano passado, no Ilha Porchat Clube, em São Vicente”. Soraia era formada pela Joyce, escola de modelos e manequins, de São Paulo, e cursava o 2º grau. Sua pretensão era concluir o curso e prestar vestibular para Educação Física. “Acho que não será possível ser modelo para o resto da vida” – analisou. “Por isso vou me preparar para dar aulas de educação física.” Além de curtir muito uma piscina do Ilha Porchat, Soraia praticava natação, jazz e ginástica rítmica na Academia de Esportes São Vicente.
Depois de vencer o Garota Carinho, quando tinha 14 anos, Soraia disputou o Garota Ilha Porchat em 1984, mas ficou em 3º lugar, atrás de Kátia Nascimento Guimarães (que depois viria a ser a Miss Santos) . Em 1985, Soraia ganhou o Garota Academia, depois o Garota das Praias, e o Garota LAZER 1986. “É superchocante vencer e ser capa de revista” – disse, lembrando o título de Garota Carinho. “As pessoas te veem na rua, apontam, comentam. Acho que vai começar tudo de novo.”
A Garota LAZER 1986 recebeu joias da Nabatéia, Minerais Preciosos, avaliadas em 1 milhão de cruzeiros, uma prancha de bodyboard da Fluid Energy, e se tornou a capa da edição da LAZER, com dois milhões de cruzeiros em roupas na Art Final, roupas da Will, Sun’s Door, Ogmma, Art Final, e um book da Styllu’s Produções Fotográficas. A pretensão da revista LAZER era realizar, em 1987, a segunda versão do concurso. Até lá, Soraia estaria presente nos eventos apoiados pela revista.
O pique animado de Luis Torquato
No concurso, um dos destaques indiscutíveis foi a performance do radialista Luís Torquato. Sua atuação foi fundamental para o sucesso do Garota LAZER 86, mantendo o público totalmente envolvido e conectado às projeções dos vídeos esportivos, à música e às apresentações das candidatas. Com sua inigualável habilidade de manter a energia alta, Torquato conseguia fazer a plateia vibrar e gritar em diversos momentos do espetáculo. Ele sempre acompanhava sua locução com mensagens otimistas que contagiavam a todos.
Ao final do concurso, Luís Torquato comentou, mesmo com a voz um pouco rouca após quatro horas de intensa locução, que trabalhar com uma plateia jovem torna tudo mais fácil e empolgante. Naquela época, Torquato era contratado pela Cultura FM e desfrutava do título de um dos locutores mais queridos das FMs de São Paulo, além de liderar a audiência em seu horário.