Incêndio de grandes proporções destrói armazém de produtos químicos da Cia Docas

Santos, sexta-feira, 28 de abril de 1961. Eram 7h30 da manhã, e o trabalho já estava a todo vapor no armazém de cargas inflamáveis e corrosivos que a Companhia Docas de Santos (CDS) mantinha no bairro da Alemoa, entre a linha da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e o estuário. Quando efetuava a mudança de um tambor de metacrilato de metila de lugar, por determinação do fiel Silvio Ramos, um dos funcionários das Docas o deixou cair, provocando o vazamento de seu conteúdo no solo. O material, altamente inflamável se juntou a restos de ácido corrosivo no chão, dando início a uma combustão incontrolável, que logo se espalhou pelo armazém, atingindo outros tambores, cerca de 20 mil deles, que continham, além do metacrilato, produtos como hidrosulfito de sódio, fósforo, acrilato de etila, monocloreto de enxofre, ácido fosfórico e alguns gases liquefeitos de várias espécies.

 

As primeiras explosões provocaram a fuga dos homens que ali trabalhavam para um local distante e seguro. Foram esses trabalhadores que acionaram o Corpo de Bombeiros da cidade. Os soldados do fogo logo apareceram, divididos em três turmas, sendo a primeira a se posicionar para o combate a comandada pelo tenente Nilaurino Pereira da Silva. Alguns empregados das Docas tentavam combater o incêndio no local, enquanto outros buscavam retirar, desesperadamente, os tambores que ainda não haviam sido atingidos, quando os bombeiros chegaram. O temor era que o incêndio pudesse atingir áreas de armazenagem onde estavam estocados outros materiais ainda mais perigosos, como acetato de abtilana, álcool diacetona, ácido clorídrico, etc.

O combate às chamas foi intenso. Logo depois do posicionamento do grupo liderado pelo tenente Nilaurino, chegaram os soldados comandados pelo tenente Roberto Torres Barreto, que foram colocados para a missão de criar uma barragem para evitar o alastramento das chamas. Àquela altura, a avaliação era de que o armazém estava praticamente perdido.

Uma multidão de curiosos começou a tomar conta do entorno do local, mas acabaram contidos pelos policiais das rádio patrulhas enviadas pelo delegado de plantão na Central de Polícia de Santos, Dr. Rafael Augusto de Moura Campos. Ele chegou a ir pessoalmente ao local do sinistro acompanhado do escrivão João Henrique dos Santos.

Mais socorros

Quando todos os grupamentos combatiam o incêndio, chegava ao local o capitão Paulo Marques Pereira, comandante da 1ª Cia. Independente de Bombeiros, que assumiu pessoalmente a direção dos trabalhos. Uma turma de bombeiros da Refinaria Presidente Bernardes e elementos da Polícia Marítima, Guarda Civil e Força Pública também contribuíam para controlar a situação do entorno e domar as chamas, que ameaçavam atingir outros dois galpões das Docas, também repletos de produtos altamente inflamáveis.  

Eram quase 13 horas, quando o fogo foi considerado extinto pelos bombeiros, restando do antigo armazém apenas parte das paredes e um amontoado de cinzas. O comando dos bombeiros avaliou que não fosse pelo vento contrário, que soprava no momento inicial do incêndio, certamente os galpões vizinhos seriam atingidos, o que provocaria uma catástrofe, dada a periculosidade do material armazenado neles.

Rescaldo e vítimas

O serviço de rescaldo recebeu o reforço do rebocador Saboó, das Docas, que garantiu o abastecimento permanente de água, retirada do estuário por bombas instaladas na embarcação, às mangueiras dos bombeiros.

Durante o combate ao incêndio, cinco elementos do Corpo de Bombeiros saíram feridos com queimaduras leves e intoxicações. Todos foram atendidos no Pronto Socorro da Santa Casa. Foram eles, o próprio capitão Paulo Marques Pereira, com intoxicação pelos gases e escoriações ligeiras; o sargento Valdemar de Oliveira, também intoxicado; o cabo Flavio Cardoso Altivo, com ferimento contuso na perna direita e os soldados José Benedito de Oliveira, com queimaduras nos braços e na perna direita e Claudio Lopes de Figueiredo, com intoxicação e queimaduras generalizadas.

 

Prejuízos

Os prejuízos foram bastante elevados, de acordo com a Cia Docas, levando em conta o tamanho da área destruída, cerca de 2.250 metros quadrados. Um perito do Instituto da Polícia Técnica de São Paulo chegou nas primeiras horas da tarde para fazer o levantamento do sinistro. Um inquérito para apurar as causas do incêndio foi aberto nas Docas, assim como outro no âmbito da polícia, instaurado na 5ª Delegacia.