Os templos perdidos de Santos

Na história da humanidade, entre as edificações que mais resistiram ao tempo estão as de conotação religiosa (igrejas, capelas, templos, cemitérios). Em Santos e região isso não é diferente, tanto que os patrimônios locais mais antigos são justamente os que foram, no passado, utilizados para esta finalidade.

Mas muitos deles não resistiram ao progresso, ou a infortúnios (como se verá mais adiante), e desapareceram da vida dos santistas. Neste artigo iremos revelar algumas das principais perdas patrimoniais da história santista no que se refere templos religiosos que, de muitas formas, foram essenciais no dia a dia desta terra e de sua gente, e que hoje só existem no imaginário transcrito em livros e em velhas fotos amareladas.

Capela Jesus Maria e José, situada ao lado do Ribeirão São Jerônimo (atual Rua Conde D’eu).

CAPELA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

A capela de Jesus, Maria e José, também conhecida como Capela do Terço, Capela do Carvalho ou Capela de Nossa Senhora da Conceição, foi erguida no final do século XVIII (cerca de 1790) a mando do coronel José Antônio Vieira de Carvalho, junto ao ribeirão de São Jerônimo, no sítio conhecido como Rua da Praia. A igreja chegou a servir à Irmandade da Misericórdia por algum tempo. Em 1826, o botânico e desenhista inglês William Burchell, em passagem por Santos, se encantou com o aspecto bucólico do edifício e o retratou em uma de suas obras. Nela, observa-se sua fachada em perspectiva feita a partir de um pontilhão que ficava ao lado do ribeirão de São Jerônimo.

O que aconteceu?

Na virada do século XIX para o XX, por causa das obras de construção do Porto de Santos, o templo, que já apresentava péssimo estado de conservação, foi condenado, assim como várias outras edificações do seu entorno. A Intendência Municipal, em decreto, decidiu por sua demolição em 1902, sendo seu terreno adquirido, dois anos depois, pela firma Zerrener, Bullow & Cia.

Onde ficava?

Quando foi aterrado para a construção do porto organizado e moderno, o trecho onde estava a capela, da borda da praia, passou para dentro e estaria na altura do que é, hoje, a saída da rua Conde D´Eu, defronte ao armazém 02.

Quem viu, viu…

Burchell registrou, Calixto pintou, Marques Pereira e Militão fotografaram, mas hoje não há ninguém que possa dizer ter conhecido ao vivo a imponente capela do século XVIII, que reinava soberana nas margens da praia de Santos, quando esta ficava ao lado da velha cidade.

Igreja de São Francisco de Paula, na tela de Benedicto Calixto, numa imagem hipotética em cerca de 1840. Na tela é retratado em primeiro plano o Rancho dos Tropeiros. 

IGREJA SÃO FRANCISCO DE PAULA

Foi no ano de 1760 que a Irmandade da Misericórdia concluiu a construção de sua, então, nova igreja junto ao Morro de São Jerônimo (atual Monte Serrat). Consagrada inicialmente ao santo que emprestava o nome ao local, a ermida foi mais tarde dedicada a São Francisco de Paula, o que inspirou, muitos anos depois, o batismo da rua com o mesmo nome (atual Avenida São Francisco). Em 1830, época em que a Irmandade utilizava o Hospital Militar (situado na Alfândega) para tratar os trabalhadores do porto que contraiam doenças infecciosas, decidiu-se que havia a necessidade de manter um local próprio para a promoção das suas atividades benemerentes. Assim, em 1835, o então provedor da Santa Casa, capitão Antônio Martins dos Santos, iniciou a construção do terceiro Hospital da Misericórdia de Santos junto à sua igreja, sendo ele inaugurado em 4 de setembro de 1836.

A igreja passou, assim, a ser um importante anexo do hospital, para onde enfermos e seus parentes se dirigiam com a finalidade de orar e pedir graças de curas. Dentro da capela existiam devoções ao Menino Jesus, Santa Isabel com São João Batista Menino, São Zacarias, São José, São João de Deus, Santa Isabel de Portugal, o Crucificado e, obviamente, a São Francisco de Paula, cuja imagem principal, a que ficava no altar, tinha estatura quase natural e, embora vestisse túnica, utilizava roupas de verdade, produzidas por uma alfaiataria local.

O que aconteceu?

No dia 10 de março de 1928, uma tragédia ocorreu em Santos. Abalada por fortes chuvas, parte da encosta do Monte Serrat desabou, soterrando dezenas de casas e várias dependências da Santa Casa de Misericórdia de Santos. A Irmandade resolveu, “forçada por circunstâncias imperiosas, abandonar temporariamente o velho e querido hospital, abrigando em lugar tranquilo e seguro centenas de enfermos que se encontravam sob aquele teto acolhedor e tradicional.”

Temerosos com a possibilidade de outros deslizamentos, os diretores da Santa Casa decidiram construir um novo hospital, em área afastada dos morros. Depois de inaugurado, em 1945, o novo prédio, no Jabaquara, o então “velho” prédio da Misericórdia, assim como a Igreja, foram condenados à demolição, tarefa só concluída no final dos anos 50.

Onde ficava?

Bem na saída do atual Túnel Rubens Ferreira Martins, do lado do Centro Histórico, onde está o início da Avenida São Francisco e o contorno para tomar o elevado. No local ainda há ruínas do velho hospital.

Capela da Graça, em imagem de Benedicto Calixto, acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo. Construída a mando dos Adorno, a Capela de Nossa Senhora da Graça serviu de primeira morada dos padres carmelitas, antes da Ordem estabelecer-se no local onde hoje está a Praça Barão do Rio Branco 

CAPELA DA GRAÇA

A capela consagrada à Nossa Senhora da Graça foi erguida no ano de 1562, a mando de José Adorno e sua esposa, D. Catharina Monteiro. Adorno fora um dos primeiros colonizadores de Santos, onde mantinha um dos mais ativos engenhos de cana-de-açúcar da região. Algum tempo mais tarde, no início de 1589, quando os padres carmelitas desembarcam na vila santista a fim de estabelecer aqui uma ordem religiosa, foi Adorno quem os acolheu e, com imensa alegria e vontade de ajudar, acabou lhes doando a ermida, por meio de escritura lavrada em 24 de abril daquele mesmo ano, conforme registrado nos anais da Ordem. Cita o documento histórico que “na mesma capella o referido padre comissário Frei Pedro Vianna veio fundar o Convento de Religiosos do Carmo”. A doação de José Adorno foi confirmada, entretanto, apenas em 7 de junho de 1603. Os carmelitas, entretanto, só permaneceram dez anos “hospedados” na pequena Capela da Graça. Braz Cubas, o fundador de Santos, e grande admirador da Ordem do Carmo, logo cedeu outra área, bem maior, para a construção da Igreja e do Convento do Carmo, no local onde até hoje está. Uma curiosidade desta capela é que ela foi a única a sepultar escravos em Santos.

O que aconteceu?

A pequena capela sobreviveu na paisagem santista por mais de 340 anos. No início do século XX, com a ebulição causada pela construção do Porto de Santos, as ruas do Centro foram alargadas, como foi o caso da Rua Santo Antônio (atual Rua do Comércio), considerada uma das principais artérias da cidade – por ser a primeira passagem de quem vinha pela Estação de Trem, e a Rua do Sal (atual Rua José Ricardo). Era nesta esquina que ficava a singela capela, já bem deteriorada em 1903, ano em que desapareceu para sempre da vida dos santistas.

Onde ficava?

Na esquina da Rua do Comércio com a Rua João Ricardo, na mesma quadra da Casa da Frontaria Azulejada.

Capela de Santa Catarina no alto do Outeiro de Santa Catarina, pintado por William Burchell, em 1826. Álbum Highcliffe, IMS.

CAPELA DE SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA

A Capela de Santa Catarina de Alexandria é, certamente, a que tem a história mais emocionante dentre os templos religiosos que desapareceram da vida santista. Foram duas que existiram. A primeira, erguida por volta de 1540, no sopé do Outeiro de Santa Catarina, é considerada a segunda edificação religiosa da história de Santos, fundada por Luís de Góes e sua mulher, d. Catharina de Andrade e Aguillar. Esta capela foi alvo da destruição promovida pelos piratas de Thomas Cavendish em 1591, sendo saqueada e parcialmente depredada. A imagem da santa que consagrava o lugar foi atirada no mar e incrivelmente encontrada, 72 anos depois, por escravos pescadores do Colégio dos Jesuítas. Eles a levaram ao reitor do colégio, padre Alexandre de Gusmão, que mandou construir nova capela no cume do Outeiro. Esta segunda edificação resistiu ao tempo por dois séculos, e é a que foi retratada por obras de Calixto e William John Burchell.

O que aconteceu?

No começo do século XIX começaram a retirar terra e extrair pedras do local para construção de casas e calçamentos.  A pequena e já velha capela foi logo demolida. Em 1869 a Câmara Municipal autorizou o desmanche do restante do pequeno morro para que fossem feitas a demarcações de ruas e quadras.  Porém, permaneceram no local duas grandes pedras, sobre as quais o médico e abolicionista João Éboli construiu uma bela casa acastelada (hoje sede da Fundação Arquivo e Memória de Santos).  Um fato marcante é que o local também é considerado o ponto inicial do povoamento santista, já que Braz Cubas, que comprara as terras de Luís de Góes, teria ali fincado os marcos iniciais da Vila de Santos, instalando a Santa Casa de Misericórdia junto à primeira capela (a do sopé do Outeiro).

Onde ficava?

Em cima do pequeno morro que não existe mais. Hoje só restam algumas rochas deste monte, onde está a sede da Fundação Arquivo e Memória de Santos – FAMS

Historiadores contestam no quadro de Calixto

A existência da torre com sino, tida como mais uma das “invencionices” do pintor. Burchell, quando esteve na Vila de Santos, em 1826, ainda teve tempo de registrar pessoalmente a imagem da pequena capela antes de seu desaparecimento, que já estava por vir. E, nela, não havia nenhuma torre.

A Matriz consagrada a Nossa Senhora do Rosário, em tela de Benedicto Calixto. Ao lado, o antigo Colégio Dos Jesuítas.

ANTIGA MATRIZ (NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO)

Construída entre 1742 e 1746, a antiga Matriz foi um exemplo clássico da arte sacra barroca. Estava localizada nas proximidades do local onde o fundador Braz Cubas levantou a primeira igreja da Misericórdia, e onde fora sepultado, quando do seu falecimento, em 10 de março de 1592.  A cerimônia de benção da Matriz ocorreu oito anos após o término de sua construção, em 1746, pelas mãos do vigário de Santos à época, padre Faustino Xavier Prado. Por 154 anos, a velha Matriz foi o baluarte da fé católica santista, tendo recebido grandes personalidades da história brasileira que por aqui passaram, como, por exemplo, o príncipe regente D. Pedro I, que lá assistiu missa quando da sua passagem por Santos às vésperas do Grito da Independência, e seu filho, D. Pedro II, que lá esteve com sua família (inclusive a princesa Isabel) em 1885.

A antiga Matriz, considerada por muitos historiadores como a primeira que Santos teve para esta finalidade (ser a igreja central), tinha ao todo sete altares – o maior sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário dos Brancos -, além de uma capela consagrada ao Santíssimo Sacramento, no altar onde ficava o Sacrário. Contava igualmente com irmandades e confrarias, com obrigações e compromissos, e inclusive uma irmandade dos pretos e outra dos pardos, ambas sem compromissos. Na sua pia batismal grandes nomes santistas foram batizados, como todos os irmãos Andradas.

O que aconteceu?

Nos primeiros anos do século XX, a velha Matriz apresentava estado lastimável de conservação. Muitos atribuíram essa condição ao latente desinteresse dos seus últimos vigários administradores. Independente do ônus da responsabilidade, o prédio barroco realmente estava enfraquecido. A ameaça de desabamentos era iminente. As autoridades santistas ficaram entre a cruz e a espada: demolir ou recuperar? O certo é que, depois de vistoriada por um engenheiro enviado pela Câmara Municipal, em fevereiro de 1906, constatou-se que a Matriz não tinha mais jeito e foi condenada em laudo técnico. Depois de muita discussão, foi aprovada pela Câmara Municipal de Santos, em 2 de janeiro de 1908, Lei específica de desapropriação do imóvel secular. A demolição iniciou tão logo a referida Lei fora promulgada e sancionada. A matriz veio totalmente abaixo em dezembro daquele mesmo ano. A justificativa maior para sua condenação era a de que a velha Matriz não possuía mais condições para comportar grande número de fiéis durante as cerimônias religiosas. Assim, ficou resolvido que a igreja deveria desaparecer para que a Praça da República pudesse ser ampliada. Um verdadeiro crime contra a memória da cidade.

Onde ficava?

Em frente à Alfândega, na direção da Rua Braz Cubas. A parte de trás da Matriz pegava um pouco do que é hoje a Praça Antônio Telles

Igreja do Sagrado Coração de Jesus, meses antes da explosão do Gasômetro, que a condenou.

IGREJA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

A história desta igreja começa pela fé de Dona Mariana Rosina, devota do Sagrado Coração de Jesus, que, em 1886, tem a ideia de erguer um templo em sua consagração. A religiosa contou com a ajuda do Comendador João Alfaya, a quem se uniu para a criação, em Santos, do Apostolado da Oração. Diz a história que, nesta época, a religião estava em baixa na cidade de Santos, tanto que o padre Taddei, responsável pelo Sagrado Coração de Jesus no Brasil, titubeava por autorizar a criação de um Apostolado na cidade, declarando que Santos era “herege, porque os carroceiros, quando desembarcava algum sacerdote, davam vaias na rua e o insultavam”. Mas Dona Mariana não desistiu e depois de costurar algumas alianças, conseguiu a tão desejada autorização e ainda ganhou uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, vinda de Paris, França.

A imagem, em tamanho natural e esculpida em madeira, chegou a Santos em 1888. Faltava, agora, a igreja, cuja área escolhida era fora da cidade na época (na hoje atual esquina da Rua da Constituição com Henrique Porchat). Em 1896, Pe. Taddei benzeu a primeira pedra da Igreja que seria erigida em honra do Sagrado Coração de Jesus, trasladado posteriormente em 3 de julho de 1897. A 5 de novembro daquele ano as obras tiveram início, com a presença de cerca de 300 pessoas, entre elas o jesuíta Pe. André Biagioni e elementos da elite santista. O Santuário Coração de Jesus, como ficou conhecido, foi inaugurado em 25 de outubro de 1902. Em 1905, D. José de Camargo Barros, bispo diocesano de São Paulo, doava a igreja aos jesuítas. Outras remodelações foram feitas no templo, enriquecendo-o. Com características arquitetônicas da época, o Santuário do Sagrado Coração de Jesus era uma das atrações turísticas da cidade. Possuía em seu interior famosas telas e quadros a óleo, algumas assinadas por Benedito Calixto, além de inscrições laqueadas em ouro e a imagem do Sagrado Coração de Jesus trazida de Paris.  

O que aconteceu?

O Santuário teve suas estruturas seriamente abaladas pela explosão do Gasômetro (Serviços de Eletricidade e Gás), que ficava na Rua Marechal Pego Junior, ocorrida no dia 9 de janeiro de 1967. Depois de uma longa e minuciosa vistoria feita por engenheiros municipais e posteriormente pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, acabou condenado e sua demolição iniciou-se naquele mesmo ano. Foi uma grande perda para os católicos, visto que o Santuário representava um patrimônio religioso e artístico-cultural, além de ser o símbolo da fé de Dona Mariana, que tanto lutou para que a igreja fosse uma realidade. Os objetos sem utilidade para a igreja foram doados a paróquias mais pobres. Outros foram vendidos e o dinheiro revertido para a ampliação do local onde se encontravam instalados os Padres Passos, Geraldo e Favero. Os castiçais, quadros e antiguidades foram vendidos, assim como o órgão, os vitrais, os sinos (o maior com o peso de 1.500 quilos e o menor com 300) e o mármore que revestia as paredes.

Onde ficava?

Na esquina da Rua da Constituição com a Rua Henrique Porchat, na Vila Nova, local hoje ocupado pela quadra de esportes do antigo Colégio Santista (atual Cais – Centro de Atividades Integradas de Santos)

Localização da antiga Igreja da Misericórdia, a segunda, no local onde hoje está a Praça Mauá.

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA MISERICÓRDIA, A SEGUNDA

Além de participar da infeliz lista das casas sagradas que desapareceram da vida de Santos, a Igreja da Misericórdia, consagrada à Santa Isabel, também não resistiu ao tempo e ao advento da fotografia, para que pudesse nos brindar com uma vaga lembrança de sua existência. As raras referências sobre ela são vistas em plantas da Vila de Santos, confeccionadas entre os séculos XVII e XVIII; em documentos do arquivo histórico da Irmandade da Misericórdia ou em poucos e fantasiosos quadros de Calixto (ele pintava baseado em algumas referências documentais). Há também alguma coisa sobre ela em correspondências encaminhadas de Santos para os governadores gerais do Brasil e São Paulo, a maior parte “suplicando” recursos para a construção ou reforma do prédio, que também abrigou o hospital da Irmandade por bastante tempo. A igreja da Misericórdia, cuja construção se iniciou em 1652, foi erguida num terreno de 60 braças – 132 metros – “no lado poente do campo, pela terra adentro da Rua Direita para o mato”. Desta feita, logo depois de pronto, o local ficou conhecido como o Campo da Misericórdia (atual Praça Mauá).

Sua edificação também motivou diversos conflitos com os carmelitas, que acusaram a Irmandade de ter “invadido” áreas que lhes pertenciam, que haviam sido doadas, segundo os padres, pelo próprio criador da Misericórdia, o fundador de Santos, Braz Cubas. A coisa ficou tão feia que a briga se transformou num longo processo e o caso foi parar na capital da Colônia, Salvador da Bahia. No final da história, os religiosos da Ordem do Carmo perderam a causa e tiveram que se calar. Prova disso é que a igreja foi erguida, em boa parte, com recursos doados pelo então Governador Geral do Brasil, D. Jerônimo de Ataíde.  “Hei por bem de lhes conceder de esmolas, em nome de Sua Majestade, 100$00, para as referidas obras, os quais se despenderão com assistência do provedor da Fazenda, e com mandado em forma que se passará em virtude desta Provisão”.

Depois da concluída, em 1665, a igreja passou a celebrar todas as missas da irmandade e enterrar seus fiéis.

O que aconteceu?

No final do século XVIII a população santista aumentava consideravelmente e já contava, no ano de 1800, com 4.126 habitantes. O crescimento demográfico, contudo, não se traduziu em progresso. Ao contrário, só trouxe mais problemas em função das demandas desta população que surgia. Assim, a Irmandade não conseguia angariar recursos para promover as constantes obras de reparos que a igreja pedia. Nos primeiros anos do século XIX, a Igreja da Confraria da Misericórdia se encontrava em péssimas condições, quase em ruínas. Os cultos foram suspensos por medida de segurança. A Mesa Administrativa da Irmandade requereu, então, uma licença ao Bispo Diocesano, pedindo a transferência de suas atividades para a Capela do Terço (Jesus, Maria e José). Todos os sepultamentos de pobres, que eram feitos na Misericórdia, começaram a ser realizados na Igreja Matriz. Estava quase proibido enterrar quaisquer cadáveres na Casa de Misericórdia. Já se cogitava uma medida urgente de higiene. Ao longo dos anos seguintes todos os serviços de atendimento a enfermos foram transferidos para o Hospital Militar do governo, instalado no antigo Colégio São Miguel dos Jesuítas e depois para umas casas obtidas, em doação, do Sr. António José Vianna, na região do Campo da Chácara, que ficava nas proximidades da pequena capela de São Francisco de Paula, onde, em 1836, finalmente, a Irmandade inauguraria seu novo hospital. A Igreja da Misericórdia do Campo foi demolida, não se sabe em que ano, mas sua existência não passou dos anos de 1840.

Onde ficava?

Praticamente no centro da atual Praça Mauá. A maior evidência de sua existência ocorreu nos anos 80, quando foram construídos os banheiros públicos da praça (atual Memorial de José Bonifácio). Na ocasião foram encontradas diversas ossadas humanas, comprovando ter existido ali a Misericórdia, já que as pessoas, antes de 1850, eram enterradas dentro das igrejas

Ruínas da Capela de Nossa Senhora das Neves, incendiada de forma criminosa em 1884

Outras capelas desaparecidas

Capela da Madre de Deus – Erguida em 1532 por Pero de Góes, junto ao Engenho de Madre de Deus

Capela de Santo Antônio – Erguida em 1545, na sesmaria de Braz Cubas, na atual Área Continental de Santos, próximo ao Rio Jurubatuba

Capela de Nossa Senhora da Apresentação – Erguida em 1560 junto ao Engenho de Gonçalo Affonso

Capela de São Jorge dos Erasmos – Erguida no século XVI junto ao Engenho dos Erasmos.

Capela de Nossa Senhora do Desterro – Erguida no Morro do Desterro (atual Morro de São Bento) no ano de 1568, fundada por mestre Bartholomeu Fernandes Gonçalves (o Ferreiro). No lugar da capela, em 1650, foi fundada a Igreja de S. Bento (Mosteiro)

Capela de São Miguel – Erguida em 1570 pelos jesuítas junto ao Rio Cabuçu, na Área Continental

Igreja do Colégio – Fundada em 1585 pelos jesuítas, junto ao Colégio da Vila. Passou a exercer funções de Matriz, em substituição à Capela de Santa Catharina, em 1591, depois do saque e depredação promovida pelos piratas de Thomás Cavendish

Capela de Nossa Senhora do Pilar – Fundada em 1590 pelos jesuítas, junto ao Engenho do mesmo nome, em Itapanhaú, hoje Bertioga

Capela de Nossa Senhora das Neves  – Erguida junto ao Sítio das Neves. Foi destruída pelo fogo em 1884