Rua XV, a “Wall Street” santista

Ela ainda é uma das vias públicas mais importantes da cidade de Santos, embora seu brilho já tenha sido muito mais intenso e radiante no passado. Mesmo assim, os seus cinco quarteirões de extensão (da Praça dos Andradas à Praça Barão do Rio Branco) insistem pulsar alguns batimentos importantes da economia local, seja como carona no passo apressado dos bravos e sobreviventes corretores de café ou participante fiel nas rodas de conversa de negócios entre os influentes membros da Associação Comercial ou do Santos e Região Convention & Visitors Bureau.

A via onde nasceu o maior filho ilustre da cidade, José Bonifácio de Andrada e Silva, fora batizada originalmente como rua Direita, ainda na época colonial. Era passagem praticamente obrigatória dos santistas que transitavam do Valongo para o bairro dos Quartéis, onde ficavam importantes casas comerciais e templos religiosos, como a velha Matriz. De alma nobre, a rua Direita abrigava casarões dos mais abastados e com o tempo, as melhores e mais importantes casas comerciais, agências bancárias e escritórios de toda sorte. Era ali, na confluência com a rua Frei Gaspar que ficava o que os santistas chamavam de “Quatro Cantos”, o espaço mais garboso da cidade, onde desfilavam elegantes homens trajados de terno e gravata e chapéu panamá. Com a Proclamação da República, a via teve a honra de ser rebatizada com o dia que transformou o país, sinalizando novos e promissores tempos para os brasileiros.

A Rua XV de Novembro não decepcionou. Com o passar dos anos foi ganhando tamanha força, que se tornou a via mais importante da cidade, a ponto de ser chamada de a “Wall Street” santista, quiçá brasileira, pois nela aconteciam a negociação internacional do mais importante produto nacional, o café.

Os principais bancos se estabeleceram por lá (como a Casa Bancária Ribeiro Carvalho, o Royal Bank of Canadá, o Banco Português do Brasil, o Banco de Comércio e Indústria de São Paulo, o London & Brazilian Bank Limited, o Brasilianische Bank Für Deutschland e o British Bank of South America) , assim como a Associação Comercial, a Bolsa do Café, a Bolsa de Valores de Santos, além das confeitarias e bares mais frequentados da cidade. Até quem ia em busca de lazer, ali encontrava, nos cinemas Excelsior (instalado no nº 88), ou o “Salon Bijou” (no nº 94), que oferecia mais de 400 cadeiras para o público. Ainda havia o “Salão Smart” (nº 46) e o “Pathé”, que exibia filmes ousados trazidos da França.

Ao longo do dia a movimentação era intensa, como a de um verdadeiro formigueiro humano, só interrompida ao passar do bonde.

Em 1929, com a crise instaurada pela quebra da Bolsa de Nova Iorque e a consequente queda do comércio do café, a Rua XV de Novembro passou a testemunhar uma lenta queda de sua aura nobre. Sobreveio a 2ª Grande Guerra e, com ela, mais desalento e tempos negros. Parecia que os bons tempos não retornariam, como de fato jamais foram retomados como no auge. A via entrou em decadência, assim como seus símbolos.

Entre o final dos anos 1990 e o novo milênio, no entanto, um suspiro pareceu empurrar novamente a Rua XV de Novembro para frente, com uma revitalização estética que lhe devolveu a aparência dos áureos tempos. Foi o pontapé que faltava para estimular a revitalização dos imóveis que abriga, como o prédio do antigo Banco Italiano, ocupado pela Construtora Phoenix; o prédio da Associação Comercial, entre outros. Até a Câmara Municipal de Santos passou a ocupar espaços na velha rua que orgulha os santistas.

Quatro Cantos, em postal editado em 1915. Confluência da Rua XV de Novembro com Frei Gaspar era o ponto mais garboso de Santos.
Quatro Cantos, em postal editado em 1915. Confluência da Rua XV de Novembro com Frei Gaspar era o ponto mais garboso de Santos.
Imagem do Banco Italiano, prédio hoje ocupado pela Construtora Phoenix
Imagem do Banco Italiano, prédio hoje ocupado pela Construtora Phoenix
Rua XV, no trecho entre a Frei Gaspar e a Rua do Comércio. Imagem no início do Século XX, mostrando vários estabelecimentos comerciais.
Rua XV, no trecho entre a Frei Gaspar e a Rua do Comércio. Imagem no início do Século XX, mostrando vários estabelecimentos comerciais.
Prédio da Bolsa do Café, na década de 1920. Centro Mundial do Comércio Cafeeiro.
Prédio da Bolsa do Café, na década de 1920. Centro Mundial do Comércio Cafeeiro.

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